Nos últimos dias do mês de fevereiro do ano de 1972, diversos jovens brasileiros, oriundos dos mais distantes confins de nosso imenso País, partiram de suas cidades com destino a Barbacena, em Minas Gerais, a Cidade das Rosas, Pérola da Mantiqueira, que hospeda a Escola Preparatória de Cadetes do Ar – EPCAR, desde 1949. 

Muitos desses jovens estavam se afastando de seus lares pela primeira vez, rumo ao desconhecido, em busca de um sonho, aquele mesmo de Ícaro: alcançar os céus. A ansiedade era perceptível e, aqui e acolá, podíamos ouvir o choro abafado da saudade de casa, que já se apresentava. 

Manhã cinzenta e chuvosa, de vinte e oito de fevereiro de 1972. Éramos trezentos e cinquenta e dois garotos, estranhos entre si, embora alguns incipientes laços de amizade tivessem sido estabelecidos meses antes, durante as provas de escolaridade, os exames médicos e os testes físicos. 

Desembarcamos no enorme Pátio da Bandeira, onde começou a nossa vida: entrar em forma para receber fardamento, conhecer o alojamento onde residiríamos. Dentro do enorme alojamento, os pequenos armários seriam nossa casa, reduto de nossa individualidade. 

Após um período de dois meses de um “banho” de militarismo, “regado” a muita ordem unida e instrução militar, fomos, finalmente, “aceitos” como alunos da EPCAR. Entre os mais antigos éramos ainda “bichos”, uma “raça” à parte, não mais que aprendizes de aluno. 

Desde o início de nossa história, a turma já se mostrou diferente e um “compositor” inspirado, o Henrique, lançou o que viria a ser o hino oficial nosso naquele ano:

Abram Alas” “Abram alas agora, não deixem pra depois, É o bicharal de Setenta e Dois. Nossa Turma em forma é dona da parada, Nosso direito é não ter direito a nada. Se se mexe em forma, vai comer na reta, A aviação é a nossa meta. Somos jovens de fibra, somos jovens afoitos, Oficiais em setenta e oito!

Não nos revoltamos contra o tratamento de “seres inferiores”, ao contrário, transformamos em motivo de poesia, música e festa a oportunidade de nos mostrar submissos e humildes.

“A humildade precede a honra”. 

E aquilo marcou! Foi o alicerce do que viria depois. Em oito de abril, fomos, oficialmente, apresentados à sociedade barbacenense, no tradicional Baile do Bicho, realizado no Olympic Club. Da inspiração e talento do Abreu, como desenhista, nasceu o emblema (“bolacha”) que viria representar nossa Turma, com a forte imagem do dragão alado.